As mudanças climáticas e as atividades humanas ameaçam cada vez mais os lagos que armazenam 87% da água doce da superfície líquida da Terra. O volume desses reservatórios tem diminuído consideravelmente, colocando em risco toda a humanidade já que são responsáveis por fornecer água para manutenção dos ecossistemas, biodiversidade e das pessoas.
Além do fornecimento de recursos, os lagos também são componentes-chave dos processos que regulam o clima por meio da reciclagem de carbono. Contudo, apesar da sua importância, esses espaços não tinham um monitoramento adequado. Uma nova avaliação publicada na revista Science nesta na quinta-feira (18) utilizou dados de observação de satélites para entender melhor a situação. O novo método de rastreamento é o primeiro a avaliar o armazenamento de água em lagos com base nessas informações.
O estudo foi conduzido por Fangfang Yao, pesquisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES). O cientista decidiu realizar a avaliação após ver que as crises ambientais estavam afetando drasticamente alguns dos maiores corpos d'água da Terra, como a secagem do Mar de Aral entre o Cazaquistão e o Uzbequistão.
Pensando nisso, ele se juntou a colegas de centros de pesquisa nos EUA, na França e na Arábia Saudita para criar uma técnica que emde mudanças nos níveis de água em quase 2 mil dos maiores lagos e reservatórios do mundo. “Analisamos os maiores lagos globais usando três décadas de observações de satélite, dados climáticos e modelos hidrológicos, encontrando declínios de armazenamento estatisticamente significativos”, relatam os especialistas no estudo.
Volume dos lagos
Neste trabalho, a equipe utilizou 250 mil fotos instantâneas dos satélites Landsat da área de 1.972 lagos de 1992 a 2020. Eles coletaram níveis de água de nove altímetros de satélite e usaram níveis de água de longo prazo para reduzir qualquer incerteza. Para lagos sem registro de nível de longo prazo, a equipe usou medições recentes feitas por instrumentos mais modernos em satélites. A partir dessas medidas, foi possível chegar ao volume.
Os resultados mostram que houve um declínio de 53% nesses corpos d'água tendo como principal motivo a mudança climática e o consumo humano de água. “Ocorreu um declínio em cerca de 100 grandes lagos e muito das ações atreladas aos principais motivos eram desconhecidas anteriormente, como a dessecação do lago Good-e-Zareh no Afeganistão e do lago Mar Chiquita, na Argentina”, contou Yao em comunicado.
Para ilustrar, os autores comparam a perda de água observada a 17 vezes o tamanho do lago Mead, o maior reservatório de água dos Estados Unidos. E esse fenômeno afeta tantos lagos em ambientes mais secos quanto úmidos, o que mostra que a situação é pior do que se imaginava.
A sedimentação foi um dos fatores apontados para declínio do armazenamento. Em reservatórios estabelecidos há muito tempo – aqueles que encheram antes de 1992 –, a sedimentação foi mais importante do que secas e anos de chuvas intensas.
Pequeno crescimento
Enquanto alguns lugares sofrem, outros têm um ligeiro ganho. A pesquisa também apontou que 24% dos lagos tiveram aumentos significativos no armazenamento de água. Esses, no entanto, tendem a estar em áreas subpovoadas no interior do planalto tibetano, onde aquecimento leva ao degelo das geleiras e do permafrost aumentando parcialmente a expansão dos lagos alpinos.
Os autores estimam que cerca de um quarto da população mundial, o equivalente a 2 bilhões de pessoas, reside na bacia de um lago seco, indicando uma necessidade urgente de incorporar o consumo humano, as mudanças climáticas e os impactos da sedimentação na gestão sustentável dos recursos hídricos.
“Se o consumo humano é um grande fator no declínio do armazenamento de água no lago, podemos adaptar e explorar novas políticas para reduzir os declínios em larga escala”, conclui Ben Livneh, professor de engenharia na CU Boulder e membro do CIRES.