Aqui em Cuiabá, parece um tanto exagerado negar o esforço da gestão Emanuel Pinheiro na saúde, que contrasta com a ideia de intervenção do governo do estado na cidade. Talvez seja difícil encontrar, no mesmo período, outras capitais que tenham investido tanto. E é sobre a ameaça ao bom funcionamento dessa instituição que devemos atentar.
É claro que havia e há muitos desafios a superar e a melhorar. Mas a intervenção estadual não se justifica se analisada de forma racional sob o princípio que norteia o SUS. Porque a essência do que fortalece o SUS é a união dos governos federal, estadual e municipal, materializando o espírito do pacto federativo previsto na Constituição.
Nessa ótica, nos últimos anos, a prefeitura de Cuiabá cooperou com o governo do estado, sem que o prefeito deixasse que sua discordância política interferisse nessa relação institucional, respeitando plenamente o conceito integrativo dos entes federados. Foi ágil no suporte à saúde, colaborando de forma inconteste com o estado no cuidado de todos os mato-grossenses.
E o governo de Mato Grosso, como procedeu com a saúde de Cuiabá? Passou mais de um mandato sem fazer entregas com a dimensão e a velocidade demandadas pela população – caso contrário, certamente teria desafogado o sistema de saúde pública de Cuiabá.
O apoio estadual não é favor, é obrigação constitucional. Se priorizado desde o início, pouparia muito sofrimento aos pacientes SUS em Cuiabá e nos demais municípios.
As pressões políticas, tantas vezes motivadas por interesses eleitorais imediatos, podem até render prestígio efêmero, mas quando agridem a base democrática do pacto federativo, abrem precedentes nocivos para a sociedade. A história julga de forma imparcial e, no seu tempo, dará clareza aos interesses envolvidos e as limitações impostas.
No caso dessa intervenção, seu argumento se tornará frágil diante da constatação do quanto ela impediu que benefícios muito maiores chegassem à população. Na minha opinião, ao longo desses anos não houve boa vontade do governo do estado em colaborar plenamente com a saúde da capital. E já está provado que só a união institucional torna a saúde pública mais forte, o SUS é prova disto.