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Opinião Segunda-feira, 09 de Setembro de 2024, 09:44 - A | A

Segunda-feira, 09 de Setembro de 2024, 09h:44 - A | A

Vivaldo Lopes

AS DORES DO CRESCIMENTO

Vivaldo Lopes
MQF

Os dados do desempenho da economia nacional publicados pelo IBGE na semana passada trazem um conjunto de boas notícias. E algumas “dores do crescimento econômico”.

No segundo trimestre de 2024, o PIB brasileiro cresceu 3,3% na comparação anual. Muito acima da maioria das estimativas feitas por economistas, analistas do mercado de capitais, instituições financeiras e consultorias econômicas. O bom desempenho da economia foi protagonizado pela indústria, setor de serviços (inclusos o comércio, construção civil, transações imobiliárias) e o investimento. Esses setores apresentaram expressivos crescimentos. Nos períodos anteriores, a atividade econômica estava muito atrelada ao excepcional desempenho do setor agropecuário. De abril a junho, registrou-se um saudável movimento de virada de chave que torna a dinâmica do crescimento mais espalhado, mais distribuído e compartilhado entre todos os setores do panorama econômico.

O grande destaque foi o forte aumento dos investimentos, que cresceram 5,7% na comparação anual. É um bom sinal de robustez o investimento (formação bruta de capital fixo) crescer acima dos demais setores da economia. Significa que as empresas estão investindo mais em maquinários, bens de capital, novas plantas industriais, produção e importação de software para aumentar a produção e a produtividade do país.

Ajudaram a impulsionar o crescimento o aumento do consumo das famílias e do governo. As famílias estão consumindo mais pela maior oferta de empregos, pequeno alívio no endividamento, mais oferta de crédito, inflação estabilizada e aumento do rendimento médio. O aumento dos gastos do governo federal veio do pagamento de mais de R$ 97 bilhões de dívidas com precatórios no início do ano, aumento real do salário-mínimo, elevação das transferências de renda de programas sociais e investimentos em obras de infraestrutura de programas como PAC e Minha Casa Minha Vida.

Na área privada, contribuíram os fortes investimentos efetuados nas áreas de petróleo, gás, energia elétrica e saneamento básico. Os investimentos na área de saneamento foram impulsionados pelas variadas concessões de operações passadas para a iniciativa privada após a aprovação da legislação do novo marco do saneamento.

Chama a atenção dos analistas o fato de o crescimento estar ocorrendo sem promover grande pressão sobre a inflação, que continua dentro da margem de variação da meta, mesmo com aumento da renda e a taxa de desemprego ter caído para 6,8%, a menor da série histórica, desde 2012 quando o IBGE iniciou essa métrica de mensuração da taxa de desocupação baseada em trimestres móveis.

As dores do crescimento surgem em forma de receios que o mercado de trabalho aquecido, elevação da massa salarial e da quantidade de pessoas ocupadas atuem para pressionar a inflação, forçando o Banco Central a manter ou até mesmo aumentar a taxa básica de juros nas próximas reuniões. A restrição monetária fatalmente afetará o mercado de crédito que, por sua vez, atuará como variável inibidora da expansão do consumo e do investimento, freando o ritmo de crescimento.

A necessidade de elevar a taxa básica de juros (Selic) foi arrefecida com a divulgação, na última sexta feira, dos dados do mercado de trabalho dos EUA. A geração de empregos ficou muito abaixo das expectativas das autoridades americanas e dos agentes econômicos, indicando que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, deve iniciar em setembro o ciclo de redução dos juros. A redução da taxa de referência dos juros no mercado americano é variável muito relevante na definição da taxa básica de juros no Brasil. Taxa de juros menor lá, aumenta o fluxo de capital estrangeiro e pode puxar o dólar para baixo aqui. A cotação baixa do dólar reduz a pressão sobre muitos preços e, por conseguinte, diminui a pressão sobre a inflação.

Fato inquestionável é que o bom desempenho da atividade econômica no segundo trimestre indica que a economia brasileira vai crescer acima de 3% em 2024, apesar da onda inicial de pessimismo de grande parte dos agentes econômicos e das inevitáveis dores do crescimento.

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Cuiabá MT, 31 de Outubro de 2024