O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou ontem o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de que o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic), de 0,50 ponto percentual, será mantido "nas duas próximas reuniões" do colegiado, pelo menos.
"Não posso confirmar se haverá aceleração dos cortes. Isso vai depender das condicionantes de risco", afirmou Campos Neto aos jornalistas, citando a série de indicadores que o Banco Central mapeia para tomar as decisões. "Ainda existe muita incerteza. Temos um balanço de risco, que é importante e, no momento, a gente considera o ritmo de 0,50 ponto percentual apropriado", insistiu.
O ciclo de queda da Selic começou em agosto, e, atualmente, a taxa está em 11,75%, após quatro cortes seguidos de 0,50 ponto percentual. Com dois cortes da mesma magnitude, os juros deverão cair para 10,75% ao ano em março de 2024.
Campos Neto destacou que a promulgação da reforma tributária e a aprovação da MP das subvenções, nesta semana, foram "vitórias importantes" na agenda econômica, e elogiou o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "A gente reconhece que tem um grande esforço do ministro Haddad. Eu tenho falado com ele, e vejo como é difícil a negociação lá no Congresso para aprovação das reformas. E, nesta semana, houve várias vitórias importantes nesse sentido. Então, acho que a gente sai da semana com boas notícias", resumiu.
Ao ser questionado pelo Correio sobre o comportamento do câmbio neste ano, o presidente do Banco Central, avaliou que o real tem ficado mais resiliente em relação a outras moedas, em grande parte, devido ao potencial de atração de investimentos na área de energia renovável. "O Brasil é um sério candidato a ter fundos de investimento mais perenes por diversas razões. Por ser, por exemplo, um país com grande capacidade de produzir com energia renovável. Então, à medida que esses fluxos se materializem, ele tende a ser beneficiado", afirmou.
Projeções
As declarações de Campos Neto foram dadas durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No documento, o BC elevou de 2,9% para 3% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, e reduziu de 1,8% para 1,7% a estimativa de avanço em 2024. As projeções do RTI, no entanto, estão mais otimistas que as do mercado. No boletim Focus divulgado nesta semana, a mediana das estimativas dos analistas de instituições financeiras para o avanço do PIB estão em 2,92%, neste ano, e em 1,51%, no ano que vem.
Pelas novas projeções de inflação do BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será de 4,6% em 2023, ante expectativa anterior de 5%. A previsão permaneceu em 3,5% para 2024 e aumentou para 3,2% em 2025.
O presidente do BC também ressaltou que existe relação entre o desquilíbrio fiscal e as expectativas de inflação, mas que isso não é mecânico. Segundo ele, essa é uma das principais mensagens a serem fixadas. Na avaliação dele, se o cenário fiscal for um pouco pior, mas o governo seguir fazendo reformas, o mercado vai entender que há um esforço para o controle da dívida pública. (RH)