Abro o presente texto celebrando, ainda que tenhamos que enfrentar muitos gargalos sociais para sobrevivermos enquanto mulher negra nessa sociedade que necessita revisitar seus comportamentos coloniais e se letrar racialmente. Então, saber da história de Tereza de Benguela por meio de sua quinta geração filha da terra e sua descendente se faz mister.
Quantas mulheres negras de Vila Bela escrevem sobre Tereza? Na minha geração além de mim nenhuma, isso se deve ao comportamento colonial e opressor de quererem escrever sobre nós sem nós. Então não há como falar da Rainha do Quariterê sem a noção de coletivo, fé e liderança. Essa Mulher Negra líder quilombola que primava pela união e luta pela liberdade em pleno século XVIII, resistência pura numa estratégia de proteção ao quilombo que liderava. O quilombo do Quariterê também conhecido como quilombo Grande, foi o primeiro e maior refúgio quilombola de Mato Grosso que resistiu a opressão da coroa Portuguesa.
Hoje é Dia Nacional de Tereza de Benguela e dia Estadual de Tereza de Benguela! Afinal rainha merece muito reconhecimento. |Nosssa rainha, foi uma mulher à frente do seu tempo, que de forma horizontalizada liderou um coletivo diverso e fez do Quilombo do Quariterê o mais duradouro com produção agrícola, arsenal bélico e produção têxtil em pleno meados do século XVIII. O deputado Max sempre reconhecendo a força das mulheres negras e valorizando a história mato grossense propôs um projeto de Lei em 2021 juntamente com o Coletivo Herdeiras do Quariterê onde além da Lei realizaram em conjunto junto a casa ALMT o primeiro prêmio matogrossense Tereza de Benguela. O teatro Zulmira Canavarros recebeu a comunidade negra em black tie celebrando o novembro negro em grande estilo. O Teatro Zulmira Canavarros virou um grande quilombo celebrando as muitas Terezas da contemporaneidade.
A realização da premiação é um reconhecimento as mulheres negras e seus trabalhos enquanto lideranças sociais. A lei estadual 11.577/21 faz dois anos de existência traremos a segunda edição desse importante prêmio que deve entrar para o calendário cultural do Estado devido ao alcance de sua primeira edição. O prêmio também é uma estratégia de letramento racial, para conhecermos e reconhecermos as trajetórias das mulheres negras do nosso Estado que continuam o legado do trabalho coletivo e de resistências, mas precisamos existir para resistir por isso clamamos por mais políticas públicas para a ponta, afinal como diz a intelectual negra Angela Davis, “quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. E o quilombo do Quariterê foi esse exercício de convivência em coletivo, existindo e resistindo a opressão ! os Legads de tereza continuam, devemos celebrar sim, sem esquecer a luta. Viva Tereza de Benguela, viva as mulheres negras que movem social e economicamente este país, e viva todas as mulheres negras, latinos e caribenhas que nos inspiram a viver!
Silviane Ramos Lopes da Silva, é Quilombola de Porto Calvário, Presidente fundadora do Coletivo HERDEIRAS DO QUARITERÊ, professora Pesquisadora do Grupo LATINAS/FIOCRUZ GEPEQ/UFMT e GEDIFI/UNEMAT além de assessora paramentar do Primeiro secretário da Assembleia Legislativa Deputado MAX RUSSI.