O governo do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que se inicia em janeiro de 2025, certamente vai trazer muitos desafios e oportunidades para a economia do Brasil e de Mato Grosso. O cenário econômico da futura gestão Trump sinaliza juros mais altos, inflação elevada e dólar mais valorizado frente a todas as demais moedas relevantes da economia mundial.
Eleito com uma plataforma xenófoba e protecionista, as decisões do republicano vão impactar a economia de todos os países, especialmente, nas políticas monetárias dos bancos centrais e nas relações do comércio exterior. O republicano governará com maioria no senado e na câmara dos representantes (equivalente à nossa câmara federal). Terá, portanto, amplos poderes para implantar a sua plataforma nacional-populista logo nos dois primeiros anos do seu mandato. E ainda contará com maioria conservadora na Suprema Corte.
Todas as medidas defendidas por Trump durante a campanha são inflacionárias. No comércio exterior promete sobretaxar linearmente de 10 a 20% os produtos de todos os países (o Brasil incluso). Para os produtos de fornecedores chineses, a taxa será e 60%. O aumento das taxas de importação vai encarecer os produtos e serviços consumidos pelas famílias e empresas americanas, produzindo aumentos de preços e, por consequência, pressionando a inflação.
A tão decantada expatriação de 11 milhões de imigrantes também vai aumentar os custos com mão de obra, elevando a inflação de serviços. Trump afirma que vai reduzir impostos cobrados das pessoas físicas, das empresas e vai aumentar os subsídios às empresas nacionais, aumentando sua competitividade para enfrentar a concorrência internacional, particularmente das empresas chinesas. As medidas tributárias e protecionistas aumentarão o já estratosférico déficit orçamentário americano que é da ordem de 7% do PIB. Para cobrir o rombo, vai aumentar a dívida do país, gerando inflação e obrigando o Federal Reserve, o banco central americano, a aumentar as taxas de juros para conter a inflação e conduzi-la rumo à meta de 2% ao ano.
Altas taxas de juros dos títulos da dívida americana atraem capitais do mundo todo, drenando para o mercado de capitais americano grande parte dos recursos investidos em países emergentes, como é o caso do Brasil.
A despeito do aumento das tarifas de importações, o Brasil continuará mantendo pragmáticas relações comerciais com os EUA, com previsível redução do volume de vendas. Como foi na primeira gestão de Donald Trump. Os produtos que o Brasil mais vende para os americanos são petróleo, aço, carnes processadas, aeronaves. Serão redirecionadas para outros mercados.
A sobretaxa sobre os produtos chineses forçará a China a retaliar os Estados Unidos, reduzindo suas compras de gás, petróleo, soja, milho, carnes, etanol, produtos da cadeia petroquímica. Para suprir sua demanda interna, os chineses vão comprar os mesmos produtos de outros países, abrindo oportunidades para o Brasil aumentar suas exportações para aquele país asiático que já é o nosso maior parceiro comercial.
Mato Grosso sofrerá os efeitos da apreciação do dólar frente ao real, o que aumenta o custo dos insumos agropecuários, maquinários, equipamentos importados e a redução das exportações de produtos como carnes e madeiras para os EUA. Em compensação, obterá ganhos na escala das exportações com o real depreciado perante a moeda americana.
Mas o maior ganho virá da expansão das exportações de commodities agropecuárias para o mercado chinês, que é o maior comprador dos produtos mato-grossenses.
Entendo que a mudança de comando em Washington pode intensificar a parceria comercial Brasil-China e ampliar investimentos bilaterais entre os países. Ao mesmo tempo, abre uma janela de oportunidade para o Brasil acelerar o acordo comercial Mercosul-União Europeia como forma de compensar a agressiva política ultranacionalista republicana no período 2025-2028.
Ao final das contas, assim como foi no primeiro governo Trump, o Brasil sofrerá, no curto prazo, com os solavancos da valorização do dólar e com a fuga de capitais. Mas a médio e longo prazo, a tendência é de pragmatismo nas relações comerciais e estabilização monetária, diante de um “novo normal” mais nacionalista e protetor da economia americana.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP ([email protected])