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Opinião Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2025, 21:00 - A | A

Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2025, 21h:00 - A | A

ROGER PERISSON

4 lições deixadas com o lançamento do DeepSeek

Roger Perisson - MQF
Brasil

Nos últimos dias, o mundo da tecnologia foi surpreendido pelo lançamento do DeepSeek, um novo modelo de inteligência artificial que rapidamente se tornou um dos tópicos mais comentados na comunidade tech. Mais do que uma inovação, o DeepSeek se tornou um fenômeno estratégico e comercial, demonstrando que uma empresa supostamente desconhecida pode impactar fortemente um mercado bilionário.

Esse caso oferece lições valiosas para negócios de qualquer setor – desde startups até grandes corporações. Afinal, como uma iniciativa relativamente desconhecida conseguiu desafiar gigantes estabelecidos e até influenciar o preço das ações de empresas concorrentes? Vamos às respostas.

1. O tamanho da empresa não determina seu impacto
O DeepSeek não surgiu de uma big tech tradicional, mas seu lançamento gerou uma movimentação no mercado comparável a lançamentos da OpenAI ou do Google. Isso nos ensina que você não precisa ser gigante para fazer barulho – mas sim ter um diferencial estratégico bem definido e uma execução impecável.

No mundo dos negócios, tamanho e tradição podem ser um diferencial, mas nem sempre garantem liderança. Empresas que ousam desafiar padrões e oferecer algo novo conseguem mudar o jogo, mesmo sem recursos ilimitados.

Aqui, o DeepSeek revive a clássica batalha Davi x Golias, mostrando que agilidade e inteligência estratégica podem vencer força e tradição.

2. Qualidade e estratégia superam o hype
Em um mercado saturado de lançamentos e promessas, só se mantém relevante quem entrega algo sólido. O DeepSeek conquistou atenção não apenas por ser open-source, mas por oferecer desempenho competitivo e acesso facilitado para desenvolvedores.

No mundo empresarial, isso significa que não basta chamar atenção – é preciso sustentar o impacto com entrega real. Marcas que se preocupam com consistência e qualidade tendem a construir reputação e lealdade mais rapidamente.

3. O efeito do gratuito e do acesso aberto
Enquanto concorrentes como OpenAI e Google investem em modelos fechados e pagos, o DeepSeek adotou uma estratégia diferente: abriu seu modelo para o público e criou um ecossistema de colaboração. Esse efeito viralizou o produto e criou um engajamento espontâneo, fazendo com que seu impacto crescesse de forma orgânica.

Essa estratégia não é nova – grandes players como Google, Tesla e até o próprio OpenAI usaram o “free access” para ganhar força em seus primeiros anos. No entanto, poucas empresas têm coragem de adotar esse modelo, pois ele exige confiança na qualidade do produto e uma visão estratégica de longo prazo.

4. Oportunidade surge onde menos se espera
Muitos esperavam que a próxima grande inovação em IA viesse de gigantes como Microsoft, Meta ou Amazon. Mas a disrupção veio de um player inesperado, provando que novos protagonistas podem surgir a qualquer momento.

Para empresas e empreendedores, isso reforça um aprendizado essencial: nem sempre o maior concorrente é a ameaça real – muitas vezes, a inovação vem de onde menos se espera. Estar atento às movimentações do mercado e entender as mudanças de comportamento do consumidor pode ser a diferença entre liderar ou ser ultrapassado.

 

Casos Reais de Disrupção: Quando Davi Vence Golias
O DeepSeek não é o único caso onde uma empresa menor e ágil conseguiu desafiar gigantes do mercado. Veja dois exemplos de disrupção que seguiram caminhos semelhantes:

Hugging Face – O Open-Source que Desafiou as Big Techs
A Hugging Face começou como uma startup pequena focada em inteligência artificial, mas rapidamente se tornou a maior referência em modelos de IA open-source. Enquanto Google, OpenAI e Meta investiam em modelos fechados e proprietários, a Hugging Face apostou na transparência e no compartilhamento de código, permitindo que desenvolvedores do mundo todo acessassem, ajustassem e colaborassem na evolução dos modelos.

Por que foi disruptivo?
Mudou a forma como IA é desenvolvida: Antes, apenas grandes empresas tinham acesso a modelos poderosos. Com a Hugging Face, qualquer desenvolvedor pode experimentar e aprimorar modelos de ponta.
Criou um ecossistema colaborativo: O site da empresa virou o “GitHub da IA”, onde pesquisadores e empresas compartilham e evoluem modelos de forma comunitária.
Forçou gigantes a se adaptarem: Empresas como Meta e até a OpenAI passaram a lançar versões mais abertas de seus modelos para competir com a filosofia de transparência da Hugging Face.


Dollar Shave Club – A Startup que Enfrentou a Gillette e Mudou o Jogo
Até 2012, o mercado de lâminas de barbear era dominado por gigantes como Gillette e Schick, que vendiam produtos caros e investiam bilhões em marketing tradicional. Foi então que surgiu a Dollar Shave Club, uma startup que vendia lâminas diretamente ao consumidor por assinatura, entregando qualidade com um preço justo e sem complicações.

A marca estourou com um vídeo de lançamento irreverente e viral, que custou apenas US$ 4.500 para produzir. Resultado? Em pouco tempo, a empresa ganhou milhões de assinantes e, em 2016, foi comprada pela Unilever por US$ 1 bilhão.

Por que foi disruptivo?
Desafiaram o status quo do mercado: Em vez de seguir o modelo tradicional, ofereceram uma alternativa simples, acessível e direta ao consumidor.
Usaram marketing criativo e de baixo custo: O vídeo viralizou organicamente, conquistando um público jovem e cansado das campanhas formais da Gillette.
Transformaram um produto básico em uma experiência: Em vez de apenas vender lâminas, a Dollar Shave Club criou um serviço recorrente, garantindo lealdade e previsibilidade de receita.
Esse case reforça que estratégia, posicionamento e criatividade podem superar tradição e dinheiro. Assim como DeepSeek desafiou a OpenAI, a Dollar Shave Club obrigou a Gillette a mudar sua abordagem, reduzindo preços e criando um serviço de assinatura próprio para não perder relevância.

 

O impacto da execução bem-feita
O DeepSeek, a Hugging Face e a Dollar Shave Club provam que não é o tamanho do seu negócio que define seu impacto – é a maneira como você executa suas ideias.

Seja no mundo da tecnologia ou em mercados tradicionais, a disrupção acontece quando empresas enxergam oportunidades que os gigantes ignoram e tomam a decisão certa no momento certo.

Afinal, como vimos nesses casos, Davi pode sim vencer Golias – basta ter a estratégia certa e saber onde atacar.

  

*Roger Perisson, é profissional de marketing com 18 anos de experiência

 

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, 31 de Janeiro de 2025